sexta-feira, 16 de novembro de 2007

CAPITULO II - “OS PATOS”

O torturado poeta Gonçalves Dias, quando longe da pátria estremecida, escreveu estes versos doridos, que todo brasileiro sabe de cor: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”. “Desmamar bezerro não é nada, duro é desfilhar a mãe” – disse Chico Buarque de Holanda, em “A Fazenda Modelo”. O novelista Dias Gomes, no livro “Sucupira Ame-a ou Deixe”, sucesso de audiência no passado, diz o seguinte: “Negrinho do Jegue, embriagado, apoia-se no jumento para não cair”. “As aves de ouro vão nas árvores pousar, / Os meus peixes de ouro a mim irão voltar”, - disse o romancista inglês, católico, Chesterton em “O Homem de Duas Barbas”. É notório o magrém do cavalo Rocinante, da novela “Dom Quixote”, de Cervantes. “Quantos animais restam? Reuniu os restos do seu rebanho. Nessa noite abriu, com um par de alicates, o arame da pastagem. Suas ovelhas pastavam toda noite”. (Do livro “Bom Dia para os Defuntos”, do peruano Manuel Scorza). Vargas Llosa escreveu “La Ciudade y Los Perros”. O paraibano José Américo de Almeida intitulou um dos seus livros de “Reflexões de Uma Cabra”. O grande cearense, Pompílio Diniz, no seu “Poemas”, tem uns versos assim: “Eu tenho na minha casa/ Um papagaio faladô, / Bichinho de pena e asas,/ Num pode tê mais valô... Conversa cum´s animá/ E, adespois, vem me contá/ Tudo qui os bicho falô!” O valente Prêmio Nobel russo, Aleksandr Soljenitsin, para melhor denunciar os arbítrios do falido comunismo soviético, escreveu um belo livro intitulado “O Carvalho e o Bezerro”. Outro russo, Anton Tchekhov, escreveu uma história curta, que se chama “Camaleão”. O nosso monumental e tempestuoso Tobias Barreto de Menezes, assim começa o poema “Os Tabaréus”: “Ouve como um tropel,/ Que se aumenta, que se engrossa.../ A poucos passos da choça/ Nitriu fogoso corcel.” O velho poeta pernambucano, Solano Trindade, fez esta pergunta nos “Cantares a Meu Povo”: “Quem tá gemendo/ Negro ou carro de boi?”. O Prêmio Nobel indiano, de 1913, Rabindranath Tagore, no livro de título estranho, “Çaturanga” (escreve-se com ç mesmo), diz o seguinte: “Estaria disposto a fazer passar como caril de cabrito os pratos de aves”. O aristocrático poeta da Paulicéia, Guilherme de Almeida, no seu imenso poema “Raça”, diz: “Chimpanzés mecânicos, treparam na cruz com rezas, trejeitos e benzeduras”. O sarrista Juó Bananére, em “La Divina Increnca”, com seu italiano deturpado, assim escreveu: “Deitava sempre di notti,/ I alivantava cidigno/ Uguali d’um passarigno, Alegro i cuntento da vitta”. O russo rebelde, Maiakóvski, comenta no seu “Hino ao Juiz”: “Por um Peru-Paraíso clamam os peruanos/Onde havia mulheres, pássaros, danças”. O humorista russo, Arcádio Avertchenko, escreveu um conto intitulado “Uma Vaca”. Platero é o nome de um burrinho peludo, criado pelo espanhol Juan Ramón Jiménez, ganhador do Prêmio Nobel, em 1956.

Homens e Caranguejos” é título de um romance de Josué de Castro. “Tem uns camaradas que não acreditam em Deus; vão para o Jóquei, estudam o programa e passam a acreditar piamente nas patas de um cavalo”. – Stanislaw Ponte Preta em “Máximas Inéditas de Tia Zulmira”. O escritor catarinense Othon d’Eça é autor de um conto intitulado “O Pica-Pau”. O botânico francês, Auguste de Saint Hilaire, que viveu no Brasil, de 1816 a 1822, tem uma descrição que se chama “Em lombo de Burro”. O inglês Lafcadio Hearn escreveu um conto que se intitula “O Menino que Desenhava Gatos”. O gaúcho Moacyr Scliar novelou com “O Carnaval dos Animais”, em 1986. O romancista Marques Rebelo, no “A Mudança”, diz: “tenham a coragem de proceder à extirpação do berne, à cauterização da bicheira”. O extraordinário contista cearense, Juarez Barroso, (morto imaturamente), no livro genial, “Joaquinho Gato”, inclui um conto que se intitula “Cururu”. O contista piauiense, radicado em Santo André, Valdecirio Teles Veras, no bem urdido livro “Sabor Canjica e Outras Estripulias”, editado pela Alpharrabio, diz, narrando suas reminiscências sertanejas: “Saímos do curral e o carneiro, sem que necessitasse de corda, me acompanhou como se fosse meu velho conhecido, me seguindo como um cão fiel”. O cínico e desbocado poeta português, Manuel Maria du Bocage (1750-1795), em um dos sonetos, poetisa: “O corvo grasnador e o mocho feio, / O sapo berrador e a rã molesta / São meus únicos sócios, na floresta”. Domingos Carvalho da Silva, da Geração de 45, tem um livro que se intitula “A Presença do Condor”. O poeta mauaense, Aristides Castelo Hanssen, no sonoro “Canção Pro Sol Voltar”, publicado em1983, num dos momentos difíceis deste País, escreveu: “É noite, os gatos são pardos”.

A poeta e intelectual argentina, Margarita Anechina, no livro “Das Profundas Raízes”, escreveu: “Deixou-me um pássaro ferido...” Roque Luzzi, tão cedo roubado do nosso convívio, em “A Festa dos Meus Olhos”, no poema “Ter Asas e Voar”, exclamou “: Oh! Ter asas e voar, / voar, voar pela amplidão”. Oliveira Ribeiro Neto, no “Eu Canto a América”, apresenta-nos estes versos: “da moura Granada / nutrido das forças das cabras ciganas, / no pico dos Andes em busca dos índios / é como um índio, / mantido de erva e leite de lhama”. A poeta rebelde, Tônia Ferr, no livro “Massacre”, diz: “quero ser lobo em alcatéia / ou camundongo a me esconder”. Paulo Setúbal, num poema sertanejo, “Alma Cabocla”, escreveu: “no eito, / Vão desbastando os juás. / Eu venho tão satisfeito. / Como se houvesse em meu peito / - Um baile de tangarás!” Outro paulista, Menotti Del Picchia, começa o seu imenso “Juca Mulato”, assim: “Nuvens voam pelo ar como bando de garças”. O conhecidíssimo José Paulo Paes, um dos mais criteriosos tradutores do país, assim aparece em “A Poesia Está Morta Mas Juro Que Não Fui Eu”: “mais vale um pássaro na mão / que uma espingarda. / O poeta Oswaldo de Camargo, em “O Estranho”, tem um verso assim: “como ave / de volta ao seu ramo verde”.

O poeta Henrique Cunha Jr., nos “Cadernos Negros 20, colaborou com um conto intitulado “O Olho Azul do Cachorro”. O satírico Cláudio Feldman escrevendo “Cais do Caos”, colocou: “Desvenda / A centopéia”. O romancista Antonio Possidonio Sampaio, no seu mais recente livro, “Andanças na Contramão”, argumenta: “Ali pardais, chupins, tico-ticos e rolinhas convivem pacificamente ao lado de carros e advogados apressados”. Alexandre Takara diz nas suas reminiscências filosóficas, “O Semeador de Lembranças”: “A natureza desperta, as folhas das árvores farfalham ao sopro do vento. O galo canta, o boi muge, o vaqueiro toca o berrante, os pássaros ruflam suas asas. Conheço-os pelo canto”. A panfletária americana, Harriet Beecher Stowe, autora do famoso “A Cabana do Pai Tomás”, (livro que levou Lincoln a dizer: “Ele (o livro), mais do que os generais cooperaram para a vitória das forças do Norte”), - disse assim: “Na água, límpida como cristal, nadavam milhares de peixinhos, de variadas cores, brilhando como tantas outras pedras preciosas. O verborrágico Coelho Neto, num dos contos de “Sertão”, começa dizendo: “o gado mugia, extenuado e magro, levantando para o céu fulvo os grandes olhos mansos e resignados”. O escritor e musicólogo andreense, Wagner Calmon, na crônica “Porta Sem Trinco Baú sem Tranca”, rememorando o tempo de menino do interior, diz: “vi um vaga-lume no quintal”

Um comentário:

Arthur Goncalves Filho disse...

Sem pretender iniciar uma celeuma sobre o assunto, gostaria somente de chamar a atenção para o fato de o grande poeta, compositor e cordelista, Pompílio Diniz, ser do estado da Paraíba, e não do Ceará.