sexta-feira, 16 de novembro de 2007

CAPITULO VII - “O BODE EXPIATÓRIO”

O inglês Charles Darwin no livro famoso “A Origem das Espécies”, teorizou: “Seria inútil separar os melhores touros e cruzá-los com as melhores vacas se a sua prole fosse deixada livre para acasalar-se com indivíduos de outros rebanhos”. A inglesa Ana Sewell intitulou o seu livro de “Azabache” (Autobiografia de um Cavalo). O romancista, Inácio de Loyola Brandão escreveu, no início de seu “Não Verás País Nenhum”, “os animais morrem”. O cearense Adolfo Caminha, autor de “A Normalista”, assim se expressou: “Nem um ruído na rua do Trilho, nem uma voz, nem um vôo pesado de um morcego: tudo silêncio, e uns restos de luar a extinguir-se esbatendo defronte nos telhados”. A romancista cearense Heloneida Studart publicou uma novelota valente que se chama “O Pardal é um Pássaro Azul”. O necrófilo poeta mineiro, Conde Belamorte, autor de três livros, decantando a morte e seus mistérios macabros, assim disse em “A Dança dos Espectros”: “Rodopiam fantasmas no meu cérebro! / Quando se me esvair a última essência. / Os necrófagos vermes que me espreitam. / Não terão abundância de matéria. / No macabro festim”. O paraibano Virginius da Gama e Melo (morto prematuramente), na ótima novela “Tempo de Vingança”, escreveu: “Os patos e os gansos, brancos, todos brancos e barulhentos, estavam descendo, pela estrada, para o açude. O cachorro espiava de longe. A mãe, a longa saia rodada, estava jogando milho para as galinhas, a urupema carregada. Os guinés esvoaçavam, caíam exatamente sobre os montes de aves mais compactos, onde mais caíra o milho”. O baiano Clóvis Amorim, em “O Alambique”, romance vivamente louvado por Jorge Amado, falou: “O cavalo de Bertoso galopava pelas estradas”. O norte-americano O. Henry, no seu conto “Natal no Rancho”, assim descreve uma cena: “...os convidados não conseguiram alcançar o assassino, que montara a cavalo muito antes dos vingadores do pobre vaqueiro”. O português Almeida Garrett, na novelota “Joaninha dos Olhos Verdes”, assim transmitiu o seu fascínio pela natureza: “Estava eu nestas meditações, começou um rouxinol a mais linda e desgarrada cantiga”.

O cubano Alejo Carpentier abre “O Reino Deste Mundo” desta forma: “Ti Noel escolheu sem vacilação aquele reprodutor grandalhão, de garupa redonda, bom para remontar as éguas que estavam parindo potros cada vez menores”. Ray Bradbury, na sua mais conhecida novela “Fahrenheit 451, disse: “O cão deu um passo, saindo do canil”. O ensaísta gaúcho Augusto Meyer escreveu dois ensaios com nomes de bichos no seu “A Forma Secreta” e “O Leão Morto e o Cão e o Rouxinol”. Tem um livro de Clarice Lispector (póstumo), que recebeu o título de “A Besta e a Fera”. O paraense Benedito Monteiro, no inovador “O Minossauro”, argumentou, com seu estilo abundoso: “Outros assim mordidos pela jaquiranabóia tinham morrido em cima do rastro. Ninguém, a não ser eu, ainda vivia escapado pra contar lambança. Veneno de Jaquiranabóia diz “que não tem cura”. O cubano lendário, Lezama Lima, no barroquíssimo “Paradiso”, no meio de uma das suas intermináveis dissertações, obtemperou: “Um ginete de besta negra levou a espada à face de um estudante que se atordoou e veio a cair debaixo do cavalo”. O poeta mauaense, J. Ramos, escreveu uma peça teatral que se chama “O Bode Expiatório”. O pernambucano Marcus Acioly tem estes versos grafados em “Nordestinado”: “A onça suçuarana / Que voa na fumaça / Do tiro errado nela”. De 1836 a 1841 o naturalista inglês George Gardner, viajando pelo Nordeste do Brasil, escreveu este trecho:... “viajando no nordeste do Brasil onde reina grande calor, sempre se dá descanso aos animais no meio do dia”. Outro naturalista, desta vez o alemão Carl Friedrich von Matius, que nos visitou entre 1817 e 1820, deixou estas frases nas impressões de viagem – “...um cidadão da Bahia, em uma viagem de mar para o Maranhão, havia naufragado e tinha visto a sua mulher afundar nas ondas, e a filha ser engolida por um tubarão”. O velho escritor cearense, Gustavo Barroso, no “Terra de Sol” (que está clamando por nova edição), fez estas colocações: “O cangaceiro, às vezes, veste de couro: perneiras estreitas, justas na perna, com uma ponta abotoada no bico longo da chinela; guarda-peito de couro de gato selvagem, de mourisco ou de onça sarapintada de negro em fundo amarelo e berrante”. A escritora inglesa, Elizabeth Goudge, no “A Estrela de Belém”, fez esta bela descrição: “Davi ia muito satisfeito sobre o camelo, e sua alegria fez com que se pusesse a tocar a sua flauta. Quando chegaram a Belém, seguindo sempre a estrela, os camelos se encaminharam para o bairro pobre da cidade".

O polonês Wladyslaw Stanislav no livro “Uma Lenda de Natal”, ironizou: “Os homens são ignorantes, e é por isso que são maus. É natural que os macacos se roubem uns aos outros, mas os homens devem auxiliar-se entre si”. O rio-grandense do norte, Umberto Peregrino, em “Desencontros”, registra no conto Pedro Cobra, este diálogo: -“Bestidade”, “João Jerônimo. Eu pego onça há dezenove anos. Estou prático nos ofícios. Nunca uma pintada fez mais do que me arranhar as mãos. Hoje em dia só não faço mesmo entrar nas furnas delas. Mas no campo enfrento qualquer uma sem sobrosso. Jogo areia nos olhos dela e ataco com os meus garfos”. O francês Frèdéric Mistral, Prêmio Nobel de 1904, no livro “Miréia”, nos ofereceu estes versos: “Grilos calaram nas noites/Mais de uma vez para escutá-lo; / Também os rouxinóis e pássaros noturnos”. O baiano Artur Salles, no poema Verão Morto, descreve: “Canta a cigarra. É o canto derradeiro, / triste, ferindo o céu crepuscular”. Utilizamos aqui a bela descrição do conto “A Volta dos Magos”, do ficcionista americano Manuel Komroff, que argumentou: “Os criados e os camelos dos Magos esperavam-nos nos poços. Rapazes e moças rondavam por ali, espantados com os curiosos tapetes das selas e com os ornamentos orientais dos arreios dos camelos ajoelhados”.

O conhecido romancista cearense, José de Alencar, abre o “Iracema” com estas palavras: “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaubeira”. O satírico filósofo francês, Voltaire (1694-1778), no seu “Dicionário Filosófico”, escreveu o que se segue: “olha os pardais do teu jardim; contempla os teus pombos; repara no touro que levam para junto da bezerra, nesse ativo garanhão que dois palafreneiros conduzem ao pé da meiga égua que o espera e desenrola a cauda para o receber; vê como os seus olhos brilham; ouve os seus relinchos; contempla aqueles saltos, aqueles caracoleios todos, as orelhas espetadas, a boca que se abre em breves convulsões, as narinas arfantes, dilatadas, a respiração ofegante, as crinas erguidas que padanam, o imperioso movimento, com que ele se lança à conquista do objeto que a natureza lhe destinou”.

E assim, terminamos este capítulo com os belos versos de Drumond de Andrade: “Um cachorro vai devagar. / Um burro vai devagar. / Devagar...as janelas olham. / Eta vida besta, meu Deus”. Mais adiante, no mesmo poema “Fuga”, o poeta itabirano tem uns versos assim: “A vaia amarela dos papagaios/rompe o silêncio da despedida”.

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