sexta-feira, 16 de novembro de 2007

CAPITULO IV - “O CORVO”

O filósofo francês Jean-Paul Sartre intitulou uma de suas peças de “As Moscas”; o recifense Frederico Pernambucano de Mello, no “A Guerra Total de Canudos”, diz o seguinte, referindo-se à alimentação do homem do Nordeste do país: “Como o mocó, o punaré ou o preá, fregueses dos serrotes de pedra, abria-se sempre uma fonte adicional de proteína para os residentes mais escopeteiros, do lado das rolinhas, da lambu, da codorna e das aves de arribação”. Mais adiante, no mesmo capítulo, o grande ensaísta ainda diz: “As forças armadas rendem-se ao segredo alimentar dos jagunços, cangaceiros, matadores de onça, amansadores de burro brabo, tropeiros e de quantos desenvolvem ainda hoje atividades intensas nos sertões do Nordeste”. Yolanda Földes escreveu “A Rua do Gato que Pesca”; o americano Horace McCoy publicou “Os Cavalos Também se Abatem”; Jean Carrière deleitou seus leitores com “O Gavião Louco”; A.S. Györgi escreveu “O Macaco Louco”; “Tropas e Boiadas” é título do clássico do goiano Hugo de Carvalho; Henry Miller escreveu estas frases duras, no seu “Sexus”, primeiro volume da famosa trilogia “A Crucificação Encarnada”: “As moças estão exalando vapor, como cavalos suarentos”. Dostoievski, em um dos seus livros mais pungentes, “Humilhados e Ofendidos”, conta-nos uma estória patética, onde aparecem um velho miserável e o seu sarnento e repugnante cão Azor. Leiamos este fragmento: “Após haver permanecido três ou quatro horas sentado, o velho, por fim, levantava-se, pegava o chapéu e ia para casa. O cão levantava-se, também, e, de cauda entre as pernas e a cabeça baixa, seguia-o maquinalmente com seus passos lentos.”

De Víbora na Mão” é título de um livro do romancista Hervé Bazim. É por demais conhecido aqui no Brasil, “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell; “O Planeta dos Macacos”, de Pierre Boule, também foi muito lido entre nós. O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, filosofou assim, a respeito do homem, no “O Antecristo”: “No nosso conceito (o homem) é o mais forte, porque é o mais astuto: a sua espiritualidade é uma conseqüência disso. Por outro lado, defende-nos contra uma vaidade que aqui também queria levantar a voz: como se o homem tivesse sido o grande pensamento último da evolução animal. Não é de modo algum a coroa da criação; cada ser encontra-se junto a ele no mesmo grau de perfeição”; mais adiante, o irado pensador germânico diz de maneira afirmativa: “o homem é, relativamente, o mais deficiente dos animais”. Os versos que se seguem encontram-se no “Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade”: “A sua habilidade consistia em matar de longe / Decepando com uma longa e certeira faca / Cabeças de frangos, patos, marrecos, perus / enfim / Da galinhada solta no quintal”. A norte americana Alaide Malkus escreveu “A Potranca Cor de Ouro”; o padre Vieira, nosso contemporâneo nordestino, batizou o seu livro de “O Jumento Nosso Irmão”. A contista Iracema M. Régis, no trabalho intitulado “Sonhos Imortais”, inserido em “Cadernos Negros 20, diz o seguinte: “Se Deus me ajudar, volto para minha terra, ainda volto. Vendo tudo isso aqui e vou terminar meus dias ouvindo a juriti e o sabiá”.

“Os cavalos caminhavam de pescoço caído, em silêncio”, - disse o francês André Malraux em “A estrada Real”. “Deitado no peitoril da janela, o cachorro olhava a noite na praça”, de Marina Colassanti, no livro de nome estranho, “Zooilógico”. “Yo soy Toro em mi Rodeo”, de José Hernandez, em “Martín Fierro”; Pierre Louÿs assim se expressou no “O Amor de Bilitis”: “supondo que eu tivesse sido picado por um escorpião”. Emily Dickinson disse assim no seu “Uma Centena de Poemas”: O “pedigree” do mel / Não interessa à abelha”; o conhecido escritor cearense, Domingos Olímpio, em “Luzia Homem”, assim se expressou: “A pousada predileta de bandos de urubus-tinga e camirangas vorazes”. “Milkaus cavalgava molemente o cansado cavalo” em “Canaã” de Graça Aranha. “As Abelhas Farmacêuticas com Asas” é título de um livro de N.P. Ioirich. “A minha onça não era uma onça qualquer. Era uma pretona, malhada de prata, de olhos verdes, brilhantes como uma lanterna”. – “Maíra” – Darcy Ribeiro. “O gado vinha procurar água, ali embaixo tinha uma lagoa” – Antonio Torres em “Essa Terra”. O poeta paulista, Jacob Netto no livro “Palmeiras do Meu Deserto”, tem um verso assim: “No roseiral florido um colibri, / num beijo ardente cada flor abarca”. “O Conde e o Passarinho” é título do livro de crônica de Rubem Braga. O norueguês Henrik Ibsen intitulou uma de suas mais famosas peças de “O Pato Selvagem”; o pernambucano Mário Sette, no livro “Arruar – História Pitoresca do Recife”, tem um capítulo que se chama “Vai sair um Passarinho”; o poeta inglês, T.S.Eliot, em um dos seus inspirados versos disse assim: “Agora os rouxinóis cantando estão”. “Não fui ver a baleia que estava a bem dizer à porta de minha casa a morrer”, diz Clarice Lispector em “Visão do Esplendor”; o famoso James Joyce, autor de Ulisses, abre o “Retrato do Artista Quando Jovem”, assim: “Certa vez – e que linda vez que isso foi! -, vinha uma vaquinha pela estrada abaixo, fazendo muu!” “A Borboleta de Dinard” é título de um livro do Prêmio Nobel italiano, Eugenio Montale; o americano Nathanael West intitulou seu livro de “O Dia do Gafanhoto”.

O Queijo e os Vermes” dá título ao livro do historiador italiano, Guinsburg; o romancista Kurt Vonnegut Jr, disse o seguinte, no livro “Revolução do Futuro”: “A gata arqueou suas costas e unhou o terno de Paul novamente”. O nosso Amir Klink, em “Cem Dias Entre Céu e Mar”, descreve esta cena: “Um enorme tubarão lentamente se esfregava no casco, com a galha para fora da água, e com a cauda, a cada passada dava um tope na proa”. O russo rebelde Yevgeny Yevtushenko disse assim no poema “Feira em Simbirsk”: “Tudo escuro em redor... A polícia secreta pula como esquilo”. “Certa vez, uma turma de policiais com cães sabujos examinou esta floresta” – isto está no livro “Um Homem Jovem”, do escritor alemão Botho Strauss. Marcello Vérité e Romains Semon escreveram um infanto-juvenil que se chama “Banto: O Pequeno Elefante”. “Os cachorros mudaram, afinal; e quando imaginávamos que nós tínhamos de haver com uma raposa, eis que ela se transforma em texugo” – Fielding em “Tom Jones”. “Os coelhos, pobrezinhos. Havia muitos coelhos na Ilha: Brancos, cinzentos, pretos, malhados. Mas, quem mandou os coelhos procriarem tanto?” Assim o romancista Herberto Sales abre o seu romance “O Fruto do Vosso Ventre”. A Rede Globo de Televisão, novelizou “O Sorriso do Lagarto”, do baiano acadêmico, João Ubaldo Ribeiro. Todo o país ainda assovia ou gunguna, comovido, os versos bonitos de Catulo da Paixão Cearense. Dia desses, a Iracema e eu fomos jantar num restaurante do Largo do Arouche, e pudemos notar como a dupla de cantores Radiante e Fábio Luiz conseguiram despertar vivo interesse dos comensais presentes, quando abriram o peitão no mundo, cantando os versos sentidos de “O Luar do Sertão”, onde estão estas estrofes que vou transcrever na íntegra: “Ser enterrado / numa grota pequenina, onde, à tarde, / a sururina / chora a sua viuvez!” Não resisto aos encantos da poesia desse grande maranhense e transcrevo mais alguns versos de incontida beleza, do mesmo “O Luar do Sertão”. Vamos lá: “Enquanto a onça, / lá na verde capoeira, / leva uma hora/inteira, vendo a lua, / a meditar!” Fomos garimpar os versos que se seguem, no “O Tocador de Atabaque”, de Eduardo Alves da Costa: “Tropas de burro, / com seus tropeiros”. O sombrio Augusto dos Anjos, tido como o poeta cientificista do Brasil, também dá aqui a sua contribuição para o enriquecimento deste zoológico animalesco: “Que importa a mim que a bicharada roa / Todo o meu coração, depois da morte?” José Duro, poeta português, é um trovador da mesma família dos Augustos dos Anjos e autor de um livro trágico, penumbroso, chamado simplesmente “Fel”, que destila versos assim: “Quando o Coveiro, um dia, arremessar, sombrio, / O teu corpo gentil aos vermes resolutos, / De lá, da esfera azul dos astros impolutos, / Verás então, Mulher, verás como eu me rio”. O teatrólogo Luigi Pirandello, ganhador do Prêmio Nobel em 1934, intitulou alguns de seus livros com nomes de animais. Vejamos: “A Mosca”, “O Corvo de Mizarro” e “Um Cavalo na Lua”.

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